Nomes como Keiji Inafune e Shigeru Miyamoto são lidos praticamente como sinônimos das franquias gigantescas Mega Man (Capcom) e Mario (Nintendo). Notícias com os nomes de criadores ou diretores executivos das companhias de jogos aparecem constantemente no universo gamer.
Há, no entanto, uma legião de pessoas que vive na penumbra desses “mestres”: por trás dos holofotes da grande mídia, centenas de trabalhadores dão duro na criação e no desenvolvimento de jogos. Exemplo disso foi o anúncio feito pela Capcom neste ano sobre a produção de Resident Evil 6: a empreitada conta com uma equipe de 600 funcionários.
Hoje, a produção independente de games ocupa espaço considerável na indústria dos jogos. Há três décadas, bastava coordenar dez pessoas para que um clássico fosse programado (isso aconteceu em 1979, quando nove trabalhadores liderados por Toru Iwatani concluíram o primeiro Pac-Man em apenas um ano).
Queremos mais que 50 tons de amarelo
Somente a partir de 1980 as relações de produção de games começaram a ficar mais “orgânicas”. O jogador dessa época, como parte de uma sociedade fortemente marcada pela explosão do cinema norte-americano, começou a exigir enredos mais coesos. Não bastava mais injetar criatividade no design dos personagens ou colorir em 50 tons de amarelo os cenários dos games; era preciso pensar em uma história que justificasse a existência dos jogos.
Foram, então, criadas equipes de roteiristas, de desenvolvedores, de sonoplastas, de marketing. Dessa forma, a figura do “programador-nerd-solitário” do final dos anos 80 começou a se diluir. Verdadeiros exércitos passaram a integrar as bases desenvolvedoras de games, e a lógica de produção de jogos foi radicalmente alterada.
Fonte: Reprodução/HotHardware
A criação de uma obra genuinamente original passou a ser fenômeno cada vez mais raro no mercado do entretenimento. Isto aconteceu em todos os segmentos da indústria cultural: a produção artística foi reprimida pelo surgimento desses “filtros de criatividade”.
Ao mesmo tempo, os criadores de games foram forçados a inovar: como fazer algo que chamasse atenção dos jogadores e que pudesse ser produzido em escala industrial? Aquele sonho longínquo e nostálgico de criar um jogo tão influente como Tetris aos 16 anos deu lugar ao desejo de conquistar postos altos nas grandes companhias de desenvolvimento de games.
Os “verdadeiros heróis”Quem também mete a mão na massa
Assim, é de se pensar: quais são os nomes envolvidos no desenvolvimento dos grandes games? Quem fica na sombra da fama e também mete a mão na massa? É preciso entender que, apesar da genialidade dos desenvolvedores originais dos jogos, um batalhão de pessoas é responsável pela realização das empreitadas.
Tetris
Um jogo que quase viciou uma equipe inteira de cientistas russos de computação em 1986. Essa foi a primeira demonstração do sucesso que estaria por vir com a criação icônica de Vadim Gerasimov, Alexey Pajitnov e Dmitry Pavlovsky (esses dois últimos então eram engenheiros de computação do Centro de Computação da Academia Russa de Ciências (Russian Academy of Sciences).
Final Fantasy 2
Este jogo de RPG, de 1988, foi um dos marcos na história do video game. A criação de Hironobu Sakaguchi foi programada também por Koji Wakasono, Kazuko Shibuya, Kouichi Ishii, Naoto Uenaka, Akitoshi Kawazu e Minoru Akao.
Atari Arcade
Além da lenda Nolan Bushnell, fundador do Atari, diversas pessoas lideram, hoje, o sucesso mundial quadriculado. Kristopher Johns (diretor de design), Josh Bartos (produtor de mídia) e Todd Shallbetter (diretor de estratégia digital e distribuição) são algumas das cabeças que fazem a companhia funcionar.
Mega Man 2
O game clássico de Inafune contou com pelo menos 25 pessoas envolvidas na sua produção. Podem ser citados, além do criador da franquia do menino robô, os nomes de alguns dos desenvolvedores dos personagens do Mega Man 2: Masanori Satou (homem de metal); Youji Kanazawa (homem de ar); Takashi Tanaka (homem bolha) e Masakatsu Ichikawa (homem de madeira).
Super Mario 64
De quem é a voz do Mario? O encanador mais famoso do mundo dos jogos é dublado por Charles Martinet. A criação de Shigeru Miyamoto foi programada por Yasunari Nishida, Yoshinori Tanikoto, Hajime Yajima, Daiki Iwamoto e Toshio Iwawaki.
Call of Duty: Black Ops 2
A batalha que se passa em 2025 no game Black Ops 2 foi pensada e escrita por Dave Anthony, David S. Goyer, Craig Houston e Micah Wright. O jogo é dirigido por Dave Anthony, e produção dele conta com uma equipe de mais de 50 pessoas.
God of War 3
A mitologia grega ganha vida na voz da narradora Linda Hunt; Kratos, que puxa briga com Ares, o deus da guerra, é dublado por Terrence Carson. Este game foi produzido por mais de dez pessoas, e quase 30 designers integraram o departamento de arte de God of War. Mais de 20 desenvolvedores de som trabalham com a trilha sonora do jogo. Phil Wilkins, Bem Diamand, Vassily Fillipov, Gabe Resneck, Jim Tilander, e Thomas Miller são alguns dos programadores de God of War 3.
Sonic Adventure
As dublagens dessa edição do jogo foram feitas em inglês e em japonês. Os dupladores do ouriço azulado são: Ryan Drummond (inglês) e Junichi Kanemaru (japonês). Quem faz a voz temerária e caricata do vilão Doctor Eggman (Japão) ou Dr. Ivo Robotnik (EUA e Europa) são Deem Bristow (inglês) e Chikao Otsuka (japonês).
Para que este jogo pudesse existir, uma equipe composta por mais de 100 pessoas precisou arregaçar as mangas e trabalhar duro na produção (um batalhão de cerca de 30 designers foi montado apenas para montar os cenários do game).
Crysis 2
Os gráficos detalhados e a textura orgânica deste Crysis 2 são resultado do trabalho de centenas de pessoas, mas Steven Bender, diretor de animação, foi o responsável pela captação dos principais personagens da trama.
A Crytek, desenvolvedora da franquia, possui sete estúdios espalhados pelo mundo, e só em Frankfurt, na Alemanha, tem nove artistas seniores de desenho em 3D: Abdenour Bachir, Tom Deerberg, Simon Fuchs, Pekka Jaerventaus, Gregor Kopka, Felix Leyendecker,Marcel Schaika, Tavershima Shande, Manuel Virks.
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Programadores ousados ainda surfam nos mares pixelados do mundo gamer. Esse é o caso dos desenvolvedores indies, que buscam a dosagem ideal entre “uma boa história e a perfeição técnica”. Mas as grandes produções de hoje exigem investimentos que facilmente chegam à casa dos sete dígitos (foram os casos de Gran Turismo 5 (US$ 80 milhões), de Metal Gear Solid 4: Guns of the Patriots (US$ 60 milhões) e de God of War 3 (US$ 44 milhões), por exemplo).
A indústria dos jogos se nutre do trabalho de inúmeras pessoas que, juntas, dão literamente vida aos personagens do universo gamer. Mãos, computadores e cérebros se abraçam por trás das “super marcas”, criando uma verdadeira fábula digital.
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